“Nossa... Como tudo muda”. Foi o que minha tia, de 88 anos, afirmou certa vez ao me observar passando roupa.

Ela prosseguiu dizendo: “Hoje em dia, as coisas são bem mais simples. Na minha época, tínhamos que usar brasas dentro do ferro de engomar para poder fazer exatamente isso que você está fazendo. Hoje basta colocar na tomada que tudo está resolvido”.
Esse comentário, além de me pôr a refletir, me despertou muitas memórias. Moro em um distrito de uma pequena cidade no interior do Ceará e na minha infância, fomos visitar um lugarejo ainda mais remoto, chamado Cipó, que não havia energia elétrica à época. Recordo-me das dificuldades em armazenar comida e até mesmo em tomar água gelada durante o calor do verão. Ainda assim, a água que nos foi servida parecia ter um sabor especial. Quem já tomou água de pote sabe...

Para manter a higiene, ninguém tomava água no copo usado pra tirar água do pote, um copo pra tirar e outro pra servir.
Em outros relatos de minha mãe e minha tia, elas me falavam que, quando não tinham acesso á geladeira, para conservarem a pouca carne que tinham em casa, tinham que salgar e secar ou, em outros casos, conservar na gordura do próprio alimento. Grãos, apenas os secos. Farinha, era mantida em caixões enorme de madeira.
Eram tempos em que, quando falecia um familiar distante, eram horas ou até dias para a notícia chegar.
Mas o curioso é que mesmo falando das dificuldades desse tempo, esses relatos não são de tristeza ou lamúria. E o que me parece é que eram tempos difíceis para recursos, mas fartos para humanidade.
As conversas eram presenciais.

As risadas, muitas vezes vinham seguidas de um tapinha nas costas. Idosos, hoje negligenciados, eram protagonistas nas rodas de histórias. lendas eram temidas, e deixavam um pouco da nossa imaginação se tornar realidade.